Depoimento do Piloto Marcelo Kloss

A categoria Desafio surgiu e meados dos anos 2001/2002. Nessa época eu era um dos membros do grupo Xpeed Club, grupo de entusiastas de carros modificados e preparados. Na época tinha recém sido lançado o filme Velozes e Furiosos 1. Para quem se recorda uma das cenas foi o evento Race Wars no filme, um evento não oficial de arrancada e onde se juntavam diversos grupos e carros para assistir e expor suas maquinas.

Com a repercussão desse filme a onda Tuning chegou ao Brasil com força, alguns projetos bem acabados dentro do âmbito racional e outros bem extravagantes e fora de contexto rsrs. Com isso me reuni com os demais membros organizadores do grupo Xpeed Club e tomamos a iniciativa de formular e criar um evento similar ao Race Wars no AIC. Cada um com sua competência e contatos corremos atrás das devidas autorizações para não cair na ilegalidade e informalidade. Quando estávamos prontos para por em pratica angariando apoiadores e patrocinadores, esbarramos na plena “dominância” da Força Livre na época que “mandava” praticamente no autódromo nos eventos de arrancada e com o bloqueio da Federação Automobilística, mesmo se tratando de um evento não oficial (Não sendo competição, com regulamentos etc.) e claro sem vinculo para ambos, não cabendo assim uma certa arrecadação (dinheiro) para ambos.

Isso gerou uma briga e longa discussão até por que tomamos a iniciativa de buscar um espaço para um evento amador para aqueles que não são profissionais no automobilismo, sair das ruas e até abrindo portas para aqueles que possivelmente poderiam buscar esse nível. Para politica era um prato cheio a iniciativa, pois se você gosta de jogar bola, você vai a uma praça e tem um campinho lá, se eu gosto de correr de carro aonde iria? Não se tem um local publico para a modalidade de esporte. Entendem..

Assim com essa pauta em discussão foi feito um acordo com a Força Livre e a Federação de Automobilismo para que dentro dos Campeonatos Paranaense e Festival Brasileiro de Arrancada se criasse uma categoria não oficial para carros de rua. Não sendo necessários regulamentos, nem cadastro e carteira de piloto, mas apenas comprovação das condições dos veículos com relação a pneus, freios, manutenção em dia e uso de capacete e habilitação categoria B.

O objetivo não era menor tempo e sim quem chegasse primeiro nos 402m. Isso foi na primeira etapa da categoria. No decorrer desta categoria, mesmo não valendo a cronometragem marcada, percebeu-se que alguns carros de rua estavam com tempos similares ou até mais baixos que alguns carros das categorias oficiais, nos quais se exigiam e restringiam itens regulamentados. Na época categorias de DT-B (Tração dianteira Turbo B) tinham tempos na media de 13s e velocidade entre 180 a 210km/h nos 402m. Alguns carros estavam passando em 14s altos e já teve alguns baixando de 14s. Como a categoria Desafio não distinguia a tração se traseira ou dianteira, tipos de motores e o nível de preparação assim como característica de sobre alimentação (4, 5, 6,8 cilindros, Turbo, Blower, Aspirado, Nitro etc.) era tudo misturado, verificou-se que alguns carros que corriam oficialmente estavam querendo passar para categoria Desafio. Pelo baixo custo de inscrição, menos restrições e exigências de regulamentação entre outros ficando assim uma categoria

mais acessível financeiramente. Gerando mais ainda está turbulência interna dentre os participantes oficiais das demais categorias a Força Livre determinou que a Categoria Desafio fosse desmembrada em duas sendo a Desafio 14s e a Desafio 15s. A regra não era mais quem chegasse primeiro, mudou para o veiculo que fizesse o tempo mais próximo ou igual a 15.000s seria o primeiro colocado da categoria Desafio 15s, se o veiculo baixasse de 15.000s passava automaticamente para categoria Desafio 14s onde valeria a mesma regra para chegar o mais próximo ou igual a 14.000s seria o campeão da categoria Desafio 14s. Mesmo nas próximas passadas se baixou em uma delas de 15s e posteriormente ele voltasse a ficar acima de 15s o veiculo não volta para categoria Desafio 15s. Baixou uma vez fica na categoria dos 14s até o final do campeonato.

Começou há bagunçar um pouco mas virou meio que uma arrancada de regularidade onde independente do veiculo, mecânica e nível de preparação se participava dessa categoria se tentava chegar mais próximo a 15s ou 14s. Nos treinos se media a febre do carro, era liberado para se ter uma noção de quanto seu carro fazia de tempo, nas passagens valendo mesmo os carros mais fortes de obrigavam a frear no final da reta para tentar ficar mais próximos aos 15s e/ou as 14s…. aí virou um jogo de estratégia. Basicamente se no treino você não conseguia baixar de 14s altos, ou seja, qualquer tempo entre 14.500s a 14,999s, ou você se arriscava tentando baixar esse tempo para se manter na categoria dos 14s, ou você freava e tentava chegar o mais próximo dos 15s para ser campeão da categoria 15s. E quem não tinha chance de troféu 1º, 2º ou 3º lugar fazendo tempos bem altos até por ser veiculo original sem preparação, participava somente para se divertir mesmo.

Passou-se um tempo a Federação já achou um jeito de começar a cobrar carteira de piloto da categoria (morder $$ um pouco), o numero de carros já era muito grande por se tratar de categoria amadora de carros de rua, os pilotos e equipes oficiais já começavam a reclamar pois demorava muito as passagens dessa categoria no decorrer do dia pela quantidade de carros, com isso foi-se restringindo o numero de inscrições, obrigatoriedade dos participantes para correr em todas as etapas do campeonato paranaense no decorrer do ano com pontuação classificatória para aí sim poder participar da categoria Desafio no festival brasileiro, e era só uma questão de tempo para extinção uma vez que se começou a restringir a categoria para 201m e não mais 402m, já surgiam alguns campeonatos em outras cidades de 201m, a Força Livre praticamente quebrou, fechou enfim e a arrancada foi se arrastando para um patamar mais elevado em outras regiões principalmente no Velopark no Rio Grande do Sul.

Alguns campeonatos de 201m se mantiveram por um tempo como Florianópolis, Fraiburgo, algumas cidades do interior de Santa Catarina, São Paulo e Paraná. E agora recentemente com a criação das Áreas de cada região (41, 43, etc.) q são os campeonatos das listas e amadores. Bom esse foi um parecer da arrancada, onde o Track Day entra nessa historia? Eu respondo…na mesma época da criação da categoria desafio, por motivação do grande filme dos Velozes e Furiosos e seus carros Tunados, alguns entusiastas com seus projetos mirabolantes de desempenho e modificações estéticas, Tuning assim chamados, também tomaram a iniciativa para organizar eventos para que pudessem expor seus brinquedos, para

não ficar enchendo os pátios de estacionamentos de shoppings, mercados, e postos de combustível em encontros semanais, veio à necessidade de algo mais organizado com exposições em barracões para que fabricantes de acessórios, som, entre outros pudessem também participar e mostrar e oferecer os seus produtos uma vez que o mercado se aquecia em decorrência do efeito do filme. Com isso a Força Livre abriu um espaço no evento de arrancada para que a galera “Tuning” também tivesse essa oportunidade. Decorrente disso alguns proprietários de veículos superesportivos, hot rods, muscule caras e toda a categoria automobilística de estética e preparação acabou aderindo à ideia. Mas veio também a necessidade de querer rodar com seus bólidos e não só em um percurso de reta, carro parado apenas para demonstração? Cada um que presenciava um bólido com alto investimento de estética e preparação mecânica, parafuso por parafuso pensado, motores enormes, carros turbinados e “nitrados”, suspensões reguláveis, mecânica ou a ar, enfim tudo aquilo…e aí ? Anda mesmo? Faz curva? Acelera? Tem potência? ….enfim proprietários e espectadores começavam a idealizar uma oportunidade. Então a Força Livre abria uma brecha para que os carros desfilassem para o publico nas arquibancadas, em uma ou outra deixavam os carros darem uma esticada para mostrar o ronco dos motores, o sobe e abaixa das suspensões…até que se abriu o chamado Tuning Day organizado pela força livre.

Hoje conhecido como Track Day, porém em alguns pontos de maior aceleração na pista eram feitas Chicanes com barreiras de pneus para o povo não sair se matando, afinal circuito exige muito experiência de pilotagem. O Tuning Day era o evento que agradava esse outro lado dos entusiastas, até mesmo pela quantidade de participantes foi um meio de se desvincular da arrancada devido à falta de espaço e a comodidade do publico e participantes. Pois tudo junto se você fosse ver o tuning perdia a arrancada e assim vice e versa. Ganhou força com apoiadores e patrocinadores de produtos e equipamentos. Mas como tudo gira em torno do $$ as inscrições começaram a ficar altas para restringir o nível e quantidade de participantes, alguns imprevistos aconteceram por negligencia e imprudência de uns, enfim não aprofundando o mérito com o fechamento da força livre o Tuning Day foi junto, assim eventos terceiros e de grupos fechados começaram a ser realizados com a locação do autódromo e num caminho penoso se deu até hoje com alguns organizadores por iniciativa própria. E agora sendo necessário também o vinculo com a federação na carteira de piloto para track day.

É isso… nesses mais de 20 anos que presenciei afinco como participante, espectador, em algumas vezes organizador e até hoje no meio automobilístico. Espero ter passado resumidamente a origem de algumas categorias e modalidades em questão. Continuemos na luta por um espaço nosso para amantes do automobilismo nacional.

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